A descrição do brasileiro típico com certeza abrange palavras como pacato, pacífico, bem-humorado, receptivo... Mas se alguém quiser conhecer realmente um brasileiro, dêem a ele um crachá.
O brasileiro se transforma com um crachá. O artefato vem na frente, pendurado no pescoço, mas tem o mesmo efeito moral que a capa para o Super-Homem. Diria que eu que, de posse de um crachá, o cidadão comum se transfigura; vira o doutor, o alguém na vida, a autoridade. A transformação fica ainda mais visível se for um crachá que dá acesso a determinadas áreas, que mortais comuns não têm acesso. Aí, não tem jeito. O sujeito vira um híbrido de homem e Chester, andando de peito duro e imponente para lá e para cá. “Não senhor, segurança. Eu posso entrar aí, olha só o meu crachá”.
O crachá é a materialização do “sabe-com-quem-está-falando”, com direito a ID, cargo, número de registro, função e áreas de acesso. E se fizer dupla com uma pulseirinha daquelas de plástico, com a inscrição “VIP”, saiam da frente: porque essa combinação é praticamente restrita aos seres míticos, transcendentais. Aos detentores dos segredos de Atlântida, dos Maias e dos Astecas.
O brasileiro típico realmente acha que um crachá é o delimitador entre a mediocridade e o Olimpo. Não interessa se é um pobre diabo, uma pseudo-celebridade ou gente que se dá mais importância do que realmente tem. Um brasileiro com crachá é quase à prova de balas. É um Bozó de Kripton. Mal sabe ele que quem é famoso mesmo não precisa disso. Ou alguém acha que o Pelé precisa de um crachá para ter acesso a algum lugar?
0 comments:
Post a Comment