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Tuesday, December 26, 2006

Movimento das estrelas, movimento da vida

Hoje vi essa foto no álbum do portal UOL. A legenda dizia “Imagens captam movimento das estrelas em cima das montanhas de Tiejerfllue, Furkahorn, Weisshorn e Valbellahorn, em fotografia com seis horas de exposição em Arosa (Suíça)”. Além da beleza, a foto traduz uma verdade. Tudo na natureza se move. A vida é movimento, transformação, mudança. Mesmo para as estrelas, que para nós aqui embaixo, parecem pontinhos fixos e brilhantes na imensidão do céu. E de um jeito ou de outro, acredito que todos nós temos capacidade de nos mover exatamente como as estrelas da foto: deixando um rastro de luz por aí. Assim como na foto, alguns rastros brilham mais, outros menos. Mas todos brilham...



Foto: Alessandro Della Bella/EFE

Wednesday, December 20, 2006

Crianças

Mesmo quando eu era criança, já gostava de crianças. Hoje em dia, gosto mais ainda... Como adulta, percebo o quanto a infância é especial: é a época em que o grau de sinceridade pode bicar o “politicamente correto” e as “convenções”.
A criança não ri para quem não gosta, não tem que dar gargalhadas na piada sem graça que o presidente da empresa contou. Muito menos tem que aturar as pessoas que, como adultas, ainda se mostram infantis. Quando criança, faz sentido o beicinho, a birra, o bater pezinho na hora da contrariedade... Só que tem adulto que fica com inveja e faz o mesmo, se tornando insuportável. Pois o bom de ser criança é que dá para fazer careta, chutar a canela, dizer os impropérios mais leves soarem como ofensa mortal. O “chata-boba-feia” proferido por uma criança tem mais força que qualquer palavrão que um adulto diga.
Ah, as crianças... Os seres mais sinceros deste planetinha tosco, mesmo quando dissimulam (porque a dissimulação infantil é sempre óbvia, porque é inocente e desprovida do grau de maldade, sacanagem e vaidade que marcam os adultos “duas caras”).
Alguém duvida? Então, vale dar uma olhada no vídeo do You Tube batizado com o nome “Bebê Gracioso”. Só a criança simula com graça; só a criança tem um grau de sinceridade tal que é impossível não notá-lo em suas atitudes.


Sunday, December 03, 2006

Definição do amor

Para mim, o Google é uma ferramenta e tanto. Uma das grandes invenções dentro da invenção-mor: a Internet. Pois bem... Fiz o teste. Fui lá no site e digitei “amor” + “definição” e dei enter. Resultado: 1.380.000 em 0,20 segundos. Ah, Google... Acho que dessa vez, nem você me ajudou. Porque eu poderia vasculhar o milhão e pouco de páginas, destrinchar resultado por resultado, dar “Ctrl + C / Ctrl + V” várias vezes, fazer uma compilação, escrever um tratado. Não seria suficiente. Amor não se define. Mas se diagnostica...

1 - Antes de tudo, se você se questiona se é amor ou não, pode ter certeza: não é. Amor quando surge, vem com tudo e vem de tal forma, que a gente sabe logo.

2 – Amor é como um painel em mosaico: você vê o todo, mas quando chega perto, vê que essa totalidade é feita de pequenos pedacinhos. E cada um tem sua função... Experimente arrancar um deles e olhar o mosaico de novo: o olho detecta logo, sabe que falta uma coisinha.

3 – Amor é anestésico e sinestésico ao mesmo tempo. Como pode? Ele serve para aliviar qualquer dor do mundo. Ao mesmo tempo, desperta todos os seus sentidos para um grau de intensidade extremo. E aí, você se emociona – a palavra é essa – com coisas aparentemente pequenas (que forma o mosaico), como o perfume da pessoa que ama na cordinha da sua câmera. E a pessoa aparece inteira na sua frente.

4 – Se você já tem uma linguagem própria com alguém, meio caminho andado para o amor. Deve ser aquele papo de “ainda que eu falasse a língua dos homens e a língua dos anjos, sem amor eu nada seria”. Porque amor pede linguagem própria.

5 – Planos... Amor pede planos. Não somente casamento ou coisas assim... Mas se nas viagens ao futuro, você se vê com quem está ao seu lado, é amor. E a visão é indissociável. Quando não é, pode estar certo: não é amor.

Por que toquei no assunto? Porque vi a pessoa que amo há poucas horas atrás. E já estou morrendo de saudade. E nem questiono... É amor, é amor, é amor. Na verdade, eu fiz a pesquisa “amor” + “definição” no Google porque eu queria ver se aparecia o nome dessa pessoa como primeiro resultado da pesquisa. Porque para mim, amor (e não estou falando de amor da família, nem dos amigos de verdade) tem nome. E era esse nome que devia aparecer para mim no resultado da busca. Ok, o Google tem limitações. Felizmente, o amor não.

Monday, November 20, 2006

Dois, 730, 17.520...

Não, não é mais um mistério numérico de Lost. Não é resultado de nenhuma equação matemática, muito menos a evolução da minha conta bancária. É uma simples seqüência, de forma nenhuma aleatória e que, para mim, é a mais pura expressão da felicidade. Não quero revelar a fórmula. Até porque não se trata de matemática, porque não é ciência exata. Antes, tem traços de química. E química das boas, daquela que dá liga forte e duradoura. Química que serve de combustível para aquecer a alma e a vida. Que serve para iluminar quando tudo parece escuro, que serve como bálsamo para dores do mundo, que serve como energia para as batalhas diárias.Não preciso dizer o que são esses números... Mas entre números, fórmulas e química, digo que, para mim, ser feliz é ter vontade de multiplicar esses números por mil!

Wednesday, November 15, 2006

V de...viu isso?


Foto de ontem (14/11), que emociona meu lado "V". Durante um protesto em frente ao Departamento de Justiça de Washington (EUA), manifestantes da Fundação "Nós Somos o Povo" se fantasiaram como personagem da obra "V de Vingança".
Ai, ai... Um dia, quem sabe?

Foto: Matthew Cavanaugh/EFE

Mínimas que eu acho o máximo - I

1 – Quem não pode com mandinga, não carrega patuá.
2 – Não sabe brincar? Não desça para o play.
3 – Tenta a sorte que o azar é certo.
4 – Jabuti não sobe em árvore. Se está lá, ou é enchente ou mão de gente.
5 – Juiz de futebol é o único ladrão que pode roubar à vontade e ainda sair protegido pela polícia.

Monday, November 06, 2006

Nem o capeta agüenta mais...

Morreu ontem (05/11), a aposentada que teve seu corpo incendiado numa fila de banco, em São Gonçalo (RJ). A louca que fez isso, de nome Solange Ferreira dos Santos, teve – na cabeça torpe dela – um motivo: pelo segundo dia seguido, não conseguiu sacar o dinheiro de sua pensão. Escolheu a vítima aleatoriamente, mas não sem pensar no caso. Segundo ela mesma, foi para casa, trocou de roupa, comprou gasolina e fez o que fez. Também disse que não sentiu nada no coração por ter feito isso, se sentindo até meio leve. Como defesa alegou: “de vez em quando, fico possuída por coisas ruins, pelo demônio”.
Que lástima o ser humano é. Animal da pior espécie: traiçoeiro como nenhum outro, dotado de covardia como não se vê entre os bichos. Pequeno, baixo, leviano. Desde as épocas remotas. Não por acaso, em algum momento da história, provavelmente numa daquelas horas que o espelho indicava essa natureza imperfeita e cruel, inventou ele: o demônio. Culpado por todas as atrocidades do mundo, responsável pelo estímulo a todos os atos ruins, a grande mão que manipula fantoches de pouca vontade diante de seus caprichos vis.
Conveniente, não? Uma pessoa compra gasolina, taca fogo em outra, não sente remorso por isso e a culpa é de quem? Ah, do demônio... O cara bebe, espanca a esposa, estupra os filhos, quebra tudo em casa. Põe na conta do capeta... Outros se rendem ao sexo promíscuo, às drogas, cheiram tudo, matam, esganam por dinheiro, por inveja, por despeito ou por qualquer motivo banal, todos já sabem quem é o responsável. Sim, claro. Sem problemas de culpa; sem dívidas a pagar (no máximo um dízimo redentor e uma falsa postura redimida – aleluia, aleluia!). A culpa é do rabudo, do cramulhão, do coisa ruim.
Não aturo mais ouvir coisas assim. O demônio existe sim, mas não tem rabo, chifres, não porta tridente. O demônio é a falta de capacidade do ser humano em lidar com o livre arbítrio. Nada mais demoníaco que um bicho capaz de saber o quanto o outro pode sofrer – e ainda assim, fazer de tudo para isso. Nada mais diabólico do que saber como provocar a dor, do que tirar a vida por motivos injustificados, do que destruir tudo que toca. E ainda assim fazê-lo. Não, não culpem o diabo. Ele é um bode expiatório dessa História triste escrita pelos homens (e por isso mesmo, precisavam arranjar um “mordomo” como culpado de todos os crimes”.
No máximo, acreditaria no Diabo como um elo na grande cadeia divina. Ele seria o tentador, até poderia fazer propostas horrendas – o que não acredito – mas pela imagem e semelhança que teoricamente herdamos do Criador, o livre arbítrio deveria optar por seguir sempre o caminho do Bem (com maiúscula mesmo).
Chega! Basta constatar: NENHUM outro animal é assim. Só o que é dotado de livre arbítrio escolhe ser cruel. Canso de ver Animal Planet, Discovery. Já vi mil guepardos comendo gazelas, cervos ou outros bichos, mas nunca vi nenhum deles torturando, matando por gosto, por inveja, por despeito. Matam para proteger território, a cria, para conseguir comida. Ponto. Por isso os bichos não precisam de demônios. O demônio é um álibi pobre para tentar ocultar uma realidade flagrante: o ser humano pode ser dotado de uma natureza muito, muito ruim. Em essência. E ter aparência de dona-de-casa que está no caixa eletrônico. Não tem rabo; nem chifres; não tem a tez vermelha; não fala com voz gutural. Quer ver um demônio em potencial? Só abrir a janela e ver as pessoas passando na rua. Se tiver coragem, vá para a frente do espelho.

Thursday, October 26, 2006

United Collors of Life

Parecia anúncio do Oliviero Toscani, mentor dos famosos anúncios da Benetton. Mas desta vez não era obra produzida por nenhum estúdio. Era obra da vida, da natureza. E por isso mesmo, ainda mais tocante.
Layton e Kaydon Richardson são irmãos gêmeos. Nasceram em Middlesbrough, Inglaterra. São mestiços, filhos de mãe negra e pai branco. Cada um nasceu de uma cor. Quantas lições poderíamos tirar de uma foto como essas, se as pessoas colocassem esse fato numa escala maior? Numa escala, na qual ficasse claro que somos todos frutos de uma mesma mãe (a vida) e um mesmo pai (sim, acredito em Deus). Temos cores diferentes, mas assim como na foto, somos todos irmãos.

Wednesday, October 25, 2006

Relendo (nunca é demais...)

Sempre é tempo de reler um clássico... Ainda mais esse (que tem ligação direta com o nome deste blog). Vale muito a pena!

Monday, October 23, 2006

V de... vai chegar a hora

Essa foto foi tirada hoje, em San José, na Costa Rica. O homem com a máscara estava na marcha à Assembléia Legislativa de lá, em protesto ao acordo de livre comércio entre a Costa Rica e os EUA. Não é só “uma” máscara. É “a” máscara. A máscara do “V”, personagem dos quadrinhos “V de Vingança”, que a sétima arte levou às telonas recentemente.
Para quem não conhece, “V de Vingança” se passa na Inglaterra, após uma explosão nuclear. O caos inglês só cessa após a ordem ser estabelecida de forma ditatorial. O Estado impõe a censura, dá com o pau em qualquer coisa que tome forme de direito civil e esmaga a oposição. As pessoas são “livres”, mas não têm liberdade (principalmente de expressão). Claro que no pacote estão inclusos a tortura, a opressão desmedida e principalmente, a conivência da sociedade (afinal, como lembrava a tagline do filme “Ninguém devia temer seu governo. O governo é que deveria temer seu povo”).
Vítima de experimentos feitos nos campos de concentração, “V” resolve se erguer contra esse sistema (ainda que de forma meio radical). Mas não importa... Ele ousa lutar por uma outra forma de vida, com liberdade (de verdade) e valorização do indivíduo (sem detrimento da sociedade).
Quando vi a foto, me bateu a mesma esperança que tive quando li os quadrinhos e quando vi o filme... Ainda que por um milésimo de segundo apenas... Um dia – provavelmente ainda BEM longe – as formas de opressão vão ter fim. Principalmente aquela que, atualmente, é responsável por 90% do óleo que move a máquina do Estado: a alienação. É fácil colocar alguém para vigiar a sociedade, transferir para poucos o dever de tomar conta de tudo que nos diz respeito. Mas... quem vigia os vigilantes?

Foto: Reuters/UOL

Friday, October 20, 2006

Gente boa...


O gente boa Robbie Williams
É a tal coisa: uando todo mundo faz uma coisa errada, parece que esse jeito errado vira certo. Parece, mas não é. Deu para perceber isso com clareza no show do Robbie Williams. Com o costume de ter o horário impresso nos ingresso de qualquer evento apenas como referência para saber quanto tempo vai atrasar, muita gente chegou depois do show ter começado. Robbie Williams entrou no palco pontualmente às 21 horas. Nem mais, nem menos. Como detesto atraso, já assegurou mil pontos no meu ranking ali.Fora isso, ainda esbanjou bom humor, zoou os atrasados, brincou com o público, atirou simpatia para todos os lados. Sem contar o espetáculo, de alto nível. Até a chuva chata que está tirando férias no Rio (e por tabela, embaçando as minhas), deu um tempo enquanto o inglês estava no palco.Texto rápido, curto e rasteiro só para registrar: pessoalmente, não sei. Mas no palco, Robbie Williams é gente boa para ninguém botar defeito.

Foto: Agência MT/Leo Dresch - retirada do UOL

Tuesday, October 17, 2006

Sobre verdades absolutas

Verdades absolutas e setas erram o alvo muitas vezes

“Se acabar é porque nunca existiu”. Verdades absolutas. São frases como essa que abre o texto. Pretendem-se incontestáveis. Fazem-se determinantes. Revestem-se da propriedade dos fatos (e como eles, tentam dar o ponto final).
Não tenho lá tanta idade assim, mas a cada ano que passa, deixo para trás uma dúzia delas. As verdades absolutas. Vejo tudo à minha volta e a única absoluta verdade que noto é que a vida é imprevisível. O mundo pode ser regido pela Matemática, como dizem alguns; mas há variáveis demais para antecipar o resultado dessa equação chamada viver. Hoje reconheço que todas as vezes que me abracei a “verdades” assim, era porque eu deixava me dominar pelo medo, pelo egoísmo, pela dureza de propósitos e pela falta de habilidade em lidar com certos imprevistos. Fazia uso delas quando não tinha argumento ou explicação convincente (não para mim, mas para o que me confrontava). Não confundo mais verdades absolutas com valores pessoais. Estes últimos são bússolas que norteiam a vida; as primeiras soam como informações desencontradas quando precisamos achar um lugar que não conhecemos.
Acho que abri mão delas, as malditas verdades absolutas, quando ouvi uma delas (exatamente a frase de abertura) da boca de uma amiga. E ela se referia ao estado da nossa amizade. Vi o quanto doía ver alguém se apegar a esse tronco verbal como se fosse porto seguro. E usar a verdade absoluta para pôr em dúvida o que deveria absolutamente verdadeiro: a amizade em si. Diante dela (da amiga e da verdade absoluta varada na minha testa), preferi não contestar mais nada. Desisti de argumentar, de explicar.
Acho que entendi perfeitamente isso hoje, quando estava ouvindo uma música do Paulinho Moska (com o Nilo Romero), “A Seta e O Alvo”. Os trechos que tocaram mais foram: “Eu ando num labirinto /E você numa estrada em linha reta / Te chamo pra festa, Mas você só quer atingir sua meta.” e “Eu lanço minha alma no espaço / Você pisa os pés na terra / Eu experimento o futuro / E você só lamenta não ser o que era / E o que era? / Era a seta no alvo / Mas o alvo, na certa, não te espera”.Por que era tão bom me pedir para eu descer do espaço e tão impossível para ela tirar os pés da terra? “Se acabar é porque nunca existiu”. Não acho. Talvez fosse uma oportunidade de recomeço. Com várias verdades, nenhuma delas absoluta (e cruéis como costumam ser).
Foto: GettyImages

Friday, October 13, 2006

Uma década de saudade

"Quem me dera, ao menos uma vez / Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem / Conseguiu me convencer / Que era prova de amizade / Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.” - Índios

Se tivesse escrito esses versos, acho que deitaria numa rede e nunca mais escreveria nada. Aliás, qualquer ser humano normal que tivesse escrito essa música (Índios), deveria realmente de não escrever mais uma linha, porque com certeza, seria difícil repetir o feito. Bom, mas quem escreveu esses versos e essa música não era normal. Afinal, também escreveu:

“É a verdade o que assombra / O descaso o que condena / A estupidez o que destrói / Vejo tudo que se foi / E o que não existe mais / Tenho os sentidos já dormentes / O corpo quer, a alma entende.” - Metal Contra As Nuvens

E não contente, registrou ainda:

“Na morte eu descanso / Mas o sangue anda solto / Manchando os papéis, documentos fiéis /Ao descanso do patrão.” - Que País É Este?

Assim era Renato Russo. Um cara que não tinha limites para exprimir sentimentos. Para associar palavras, pensamentos e acordes, fazendo poesias musicadas.
Essa semana (mais exatamente no dia 11 de outubro), fez dez anos que ele morreu. Eu, particularmente, já tinha passado pela experiência de ver músicos que eu gostava indo para o andar de cima (Cazuza e Kurt Cobain não me deixam mentir). Mas quando foi ele, o líder da Legião Urbana, eu senti como nunca. Lembro que estava saindo para a faculdade e desisti de ir, de tão chateada que fiquei. Alguns amigos até ligaram, perguntando como eu estava. Parecia que eu era parente... Não era isso. Senti tanto porque eu sabia que a lacuna que ele preenchia ficaria vaga (e porque era óbvio que a banda que eu mais amo teria fim).

Sim, temos ótimos letristas como Nando Reis e Gabriel O Pensador. Mas os dois meio que se limitam a um determinado tema. Renato Russo não. Falava de revolução e status quo; de amor e raiva; de vida e morte; de burguesia e proletariado; de acomodação e revolta. Transitava livremente por qualquer campo da subjetividade e traduzia ali, no papel. Tamanha versatilidade fez da Legião Urbana uma opção de trilha sonora de qualquer momento da vida. Da minha, pelo menos.
Era um talento único. Não era um messias, como dizem. Não era mártir. Não era exemplo. Não era santo. E quem se importa? Como ele mesmo disse:

“Há tempos nem os santos têm ao certo / A medida da maldade / E há tempos são os jovens que adoecem / E há tempos o encanto está ausente / E há ferrugem nos sorrisos / Só o acaso estende os braços / A quem procura abrigo e proteção.”

Os santos podiam não saber ao certo... Mas Renato Russo sabia (e talvez essa seja a melhor explicação para um cara como ele não ficar aqui nesse planetinha tacanho).

Friday, October 06, 2006

Infância

Adorava este desenho: Bicudo, O Lobisomem

“Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!”Esses são os versos que abrem “Meus Oito Anos”, o mais famoso poema de Casimiro de Abreu. Quando o li pela primeira vez, eu era pré-adolescente e não senti o que ele escreveu. Devo ter até pensado, que ter oito anos era uma idade bem chatinha...
Hoje, com alguns anos a mais na bagagem, sei o que ele quis dizer. Vi muita coisa mudando. Algumas mudanças abracei como se reencontrasse uma amiga; outras, convivem ao meu lado e me fazem companhia sem nada dizer, como as pessoas que sentam ao meu lado no ônibus, indo e vindo do trabalho. Num terceiro grupo, coloco as mudanças que preferia apagar.
Sinto saudades dos gibis que devorava; dos manuais da Disney (que tanto me ensinaram e nem percebi). Sinto falta da tendinha de colcha de retalhos armada no quintal; de ensacar com alegria os docinhos de Cosme e Damião; de assistir TV Manchete no fim da tarde. Da coleção de fichas de ônibus, do jogo de botão, das partidas históricas com meu irmão no Estrelão. De ir à Campo Grande e pisar nas ruas sem asfalto. De ir ao centro que até hoje freqüento e ver os rostos e pessoas que são apenas lembrança agora. De transitar pelas ruas sem territórios demarcados. Queria, realmente queria, sentir o gosto dos sonhos de banana e do pãozinho Ding-Dong frito, com goiabada. Sinto falta do meu “escritório” embaixo da mesa. Do “Clube da Baleia Azul” (com três membros: eu, meu irmão e minha prima). Das idas à Paquetá e à casa de praia – quando ainda se podia dar esse nome – em Sepetiba. Das Olimpíadas disputadas no quintal. De surrupiar laranjas que eram exclusivas para os passarinhos do vovô. Das balinhas que meu irmão trazia depois da aula. Saudade de um macacão jeans do Snoopy, que eu adorava vestir. Saudade-mor, da minha avó, minha carinha de anjo, minha segunda mãezinha.
Saudades da infância. Saudade que corta e serve de remédio. Que mareia os olhos, irrigando a alma. Que às vezes entristece sim, mas dá base a todas as minhas alegrias de hoje (e que graças a Deus, não são poucas). Tempos de saudosismo no Castelo de If.

Wednesday, October 04, 2006

Muros do mundo... Mundo de muros...

Saudades dessa cena...

O que você faria com US$ 1,2 bilhão de dólares? Bom, se você fosse George W. Bush, usaria a grana para construir barreiras. Mais especificamente, centenas de quilômetros delas na fronteira com o México. O objetivo? “Conter a imigração ilegal”.
A cada dia, o quadro do século XXI está sendo pintado com cores fortes. Cores que não se misturam. Cores que não têm meios-tons. Nenhuma nuance de mistura. Não, não é exclusividade americana. Pode até ser que os EUA sejam o ícone máximo disso. Mas não faltam pincéis nem representantes dessa “escola”, dessa “arte” que atende pelo nome de intolerância.
Pode olhar... Ela aparece nos ônibus, onde as pessoas se empurram grosseiramente para entrar primeiro e conseguir um lugar. Mesmo quando o ônibus está cheio de vazios.
Está nos muros da minha cidade, onde vejo frases do tipo “Só Jesus expulsa Maria Padilha das pessoas”; “Santo não faz macumba”; “Quem adora imagem adora o diabo” (admito: corrigi os erros de vírgula, característica de tais frases). Que disseminação gratuita de preconceito...
Está nas conversas pseudo-politizadas típicas de tempos de eleição, quando é possível pinçar comentários do tipo “Nunca votaria em ‘fulana’! Parece que só tem uma roupa!”.
Está na pessoa que fura a fila sem o menor constrangimento. Na que pisa ou esbarra na rua e ainda reclama porque “estavam no meio do caminho”.
É vizinha do moralismo excessivo ou de termos como ”afro-sei-lá-o-quê” (sim, é preciso criar neologismos para ‘separar’ melhor).
O muro do Bush é só a materialização de tudo. O individualismo excessivo, a cultura do “eu” parece não ter fortalecido as pessoas. Antes isso: parece ter gerado tamanha insegurança diante das diferenças, que as pessoas preferem condenar a tentar entender. Segregar a tentar se colocar no lugar do outro. E fazem isso em nome do que for: em nome de Deus, da segurança de Estado, da correria diária, de convicções políticas. Só me lembro do provérbio árabe, que Renato Russo fez verso da música “Do Espírito”: a ignorância é vizinha da maldade. Triste mundo que precisa de muros (não sei se para segregar ou ocultar a vergonha de uma humanidade tão mesquinha).

Monday, September 25, 2006

Aldeia Global?

Ei, flor... Você tem passaporte para crescer entre as pedras?

Não sei a definição exata que estão dando à palavra “globalização” nas salas de aula ou nas enciclopédias. Mas sei o que a palavra significa e sei que não fica longe de explicações como “processo de integração econômica e social dos países do Mundo no final do Século XX” ou “cooperação recíproca entre nações e povos de todo o globo”. Bonito.
Aí, eu abro o jornal e vejo a matéria intitulada “Suíça aprova regras mais duras para a imigração”. Li novamente. As novas leis restringem os pedidos de asilo. A legislação nova proíbe cidadãos de fora da União Européia ou da Associação Européia de Livre Comércio de trabalhar por lá (exceção feita à mão-de-obra altamente especializada). Quem não tem documento de identidade ou passaporte, também tem vai ter benefícios cortados ou pedidos de asilo negados.
Pareceria justo, se a gente não vivesse num mundo onde há perseguidos e refugiados. Gente que foge da guerra; da miséria; dos massacres de qualquer ordem, “justificados” pelas diversas faces da intolerância. Gente que foge em nome da esperança, procurando as coisas que a Declaração Universal dos Direitos Humanos fomenta. Pensando bem, se tudo que está lá fosse verdade mesmo, nem seria necessário fazer uma Declaração, pois isso seria “default”, certo?
Quando eu ainda estava na escola, a Suíça era apontada como “neutra” e por isso mesmo, tinha grande reputação humanitária. Hoje, a humanidade permanece. Mas tem que ter passaporte e cidadanias européias.
Grande Aldeia Global! Qual era mesmo a definição de globalização? Já não tenho certeza. Vou procurar saber se mudaram o significado de palavras como “cooperação”, “reciprocidade” e “integração” para descobrir se, no fim das contas, a maluca não sou eu...

Monday, September 18, 2006

Indo para o Castelo de If...

Castelo de If

Desde cedo, sempre tive muita percepção de tudo. Hoje, pensando na infância, chego a duas conclusões: fui uma criança muito feliz; fui uma criança muito “adulta”. Não quer dizer que fosse fechada, mas eu me lembro de ter preocupações se seria ou não boa profissional com uns 7,8 anos. Sei lá se isso é bom ou ruim... O fato é que isso era conseqüência de pensar nas coisas do mundo desde pirralha.

Por isso, não era raro me ver entediada com os livrinhos para gente da minha idade na época. E por isso eu lia com prazer livros que as outras crianças rejeitavam. Um deles foi o clássico “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas. Foi com ele que conheci Edmond Dantes – protagonista do livro – e o Castelo de If, no qual ele ficou preso quase 15 anos injustamente. Já mais velha, vi a mais recente adaptação do livro para o cinema, a que tem Jim Caviezel e Guy Pearce no elenco. Me lembrei o quanto eu me identifico com Dantes... Me lembrei o quanto sinto que “perdi minha liberdade injustamente”, como se estivesse trancafiada no Castelo de If. Não literalmente, claro. Mas sensitivamente. Ter percepção das coisas é uma prisão; ter determinados pensamentos sobre as pessoas e o mundo prende tanto quanto qualquer grilhão; ter tanta opinião guardada é como estar envolta em correntes.

Então, assim como Dantes, vou passar um tempo no Castelo de If... O meu Castelo de If... Escrevendo em suas paredes (virtuais), as coisas que me tocam, ferem ou inspiram. Só que, ao contrário do livro, vou fazer do meu Castelo de If um exercício de libertação.