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Friday, October 06, 2006

Infância

Adorava este desenho: Bicudo, O Lobisomem

“Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!”Esses são os versos que abrem “Meus Oito Anos”, o mais famoso poema de Casimiro de Abreu. Quando o li pela primeira vez, eu era pré-adolescente e não senti o que ele escreveu. Devo ter até pensado, que ter oito anos era uma idade bem chatinha...
Hoje, com alguns anos a mais na bagagem, sei o que ele quis dizer. Vi muita coisa mudando. Algumas mudanças abracei como se reencontrasse uma amiga; outras, convivem ao meu lado e me fazem companhia sem nada dizer, como as pessoas que sentam ao meu lado no ônibus, indo e vindo do trabalho. Num terceiro grupo, coloco as mudanças que preferia apagar.
Sinto saudades dos gibis que devorava; dos manuais da Disney (que tanto me ensinaram e nem percebi). Sinto falta da tendinha de colcha de retalhos armada no quintal; de ensacar com alegria os docinhos de Cosme e Damião; de assistir TV Manchete no fim da tarde. Da coleção de fichas de ônibus, do jogo de botão, das partidas históricas com meu irmão no Estrelão. De ir à Campo Grande e pisar nas ruas sem asfalto. De ir ao centro que até hoje freqüento e ver os rostos e pessoas que são apenas lembrança agora. De transitar pelas ruas sem territórios demarcados. Queria, realmente queria, sentir o gosto dos sonhos de banana e do pãozinho Ding-Dong frito, com goiabada. Sinto falta do meu “escritório” embaixo da mesa. Do “Clube da Baleia Azul” (com três membros: eu, meu irmão e minha prima). Das idas à Paquetá e à casa de praia – quando ainda se podia dar esse nome – em Sepetiba. Das Olimpíadas disputadas no quintal. De surrupiar laranjas que eram exclusivas para os passarinhos do vovô. Das balinhas que meu irmão trazia depois da aula. Saudade de um macacão jeans do Snoopy, que eu adorava vestir. Saudade-mor, da minha avó, minha carinha de anjo, minha segunda mãezinha.
Saudades da infância. Saudade que corta e serve de remédio. Que mareia os olhos, irrigando a alma. Que às vezes entristece sim, mas dá base a todas as minhas alegrias de hoje (e que graças a Deus, não são poucas). Tempos de saudosismo no Castelo de If.

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