THOUSANDS OF FREE BLOGGER TEMPLATES

Tuesday, October 17, 2006

Sobre verdades absolutas

Verdades absolutas e setas erram o alvo muitas vezes

“Se acabar é porque nunca existiu”. Verdades absolutas. São frases como essa que abre o texto. Pretendem-se incontestáveis. Fazem-se determinantes. Revestem-se da propriedade dos fatos (e como eles, tentam dar o ponto final).
Não tenho lá tanta idade assim, mas a cada ano que passa, deixo para trás uma dúzia delas. As verdades absolutas. Vejo tudo à minha volta e a única absoluta verdade que noto é que a vida é imprevisível. O mundo pode ser regido pela Matemática, como dizem alguns; mas há variáveis demais para antecipar o resultado dessa equação chamada viver. Hoje reconheço que todas as vezes que me abracei a “verdades” assim, era porque eu deixava me dominar pelo medo, pelo egoísmo, pela dureza de propósitos e pela falta de habilidade em lidar com certos imprevistos. Fazia uso delas quando não tinha argumento ou explicação convincente (não para mim, mas para o que me confrontava). Não confundo mais verdades absolutas com valores pessoais. Estes últimos são bússolas que norteiam a vida; as primeiras soam como informações desencontradas quando precisamos achar um lugar que não conhecemos.
Acho que abri mão delas, as malditas verdades absolutas, quando ouvi uma delas (exatamente a frase de abertura) da boca de uma amiga. E ela se referia ao estado da nossa amizade. Vi o quanto doía ver alguém se apegar a esse tronco verbal como se fosse porto seguro. E usar a verdade absoluta para pôr em dúvida o que deveria absolutamente verdadeiro: a amizade em si. Diante dela (da amiga e da verdade absoluta varada na minha testa), preferi não contestar mais nada. Desisti de argumentar, de explicar.
Acho que entendi perfeitamente isso hoje, quando estava ouvindo uma música do Paulinho Moska (com o Nilo Romero), “A Seta e O Alvo”. Os trechos que tocaram mais foram: “Eu ando num labirinto /E você numa estrada em linha reta / Te chamo pra festa, Mas você só quer atingir sua meta.” e “Eu lanço minha alma no espaço / Você pisa os pés na terra / Eu experimento o futuro / E você só lamenta não ser o que era / E o que era? / Era a seta no alvo / Mas o alvo, na certa, não te espera”.Por que era tão bom me pedir para eu descer do espaço e tão impossível para ela tirar os pés da terra? “Se acabar é porque nunca existiu”. Não acho. Talvez fosse uma oportunidade de recomeço. Com várias verdades, nenhuma delas absoluta (e cruéis como costumam ser).
Foto: GettyImages

0 comments: