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Friday, October 13, 2006

Uma década de saudade

"Quem me dera, ao menos uma vez / Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem / Conseguiu me convencer / Que era prova de amizade / Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.” - Índios

Se tivesse escrito esses versos, acho que deitaria numa rede e nunca mais escreveria nada. Aliás, qualquer ser humano normal que tivesse escrito essa música (Índios), deveria realmente de não escrever mais uma linha, porque com certeza, seria difícil repetir o feito. Bom, mas quem escreveu esses versos e essa música não era normal. Afinal, também escreveu:

“É a verdade o que assombra / O descaso o que condena / A estupidez o que destrói / Vejo tudo que se foi / E o que não existe mais / Tenho os sentidos já dormentes / O corpo quer, a alma entende.” - Metal Contra As Nuvens

E não contente, registrou ainda:

“Na morte eu descanso / Mas o sangue anda solto / Manchando os papéis, documentos fiéis /Ao descanso do patrão.” - Que País É Este?

Assim era Renato Russo. Um cara que não tinha limites para exprimir sentimentos. Para associar palavras, pensamentos e acordes, fazendo poesias musicadas.
Essa semana (mais exatamente no dia 11 de outubro), fez dez anos que ele morreu. Eu, particularmente, já tinha passado pela experiência de ver músicos que eu gostava indo para o andar de cima (Cazuza e Kurt Cobain não me deixam mentir). Mas quando foi ele, o líder da Legião Urbana, eu senti como nunca. Lembro que estava saindo para a faculdade e desisti de ir, de tão chateada que fiquei. Alguns amigos até ligaram, perguntando como eu estava. Parecia que eu era parente... Não era isso. Senti tanto porque eu sabia que a lacuna que ele preenchia ficaria vaga (e porque era óbvio que a banda que eu mais amo teria fim).

Sim, temos ótimos letristas como Nando Reis e Gabriel O Pensador. Mas os dois meio que se limitam a um determinado tema. Renato Russo não. Falava de revolução e status quo; de amor e raiva; de vida e morte; de burguesia e proletariado; de acomodação e revolta. Transitava livremente por qualquer campo da subjetividade e traduzia ali, no papel. Tamanha versatilidade fez da Legião Urbana uma opção de trilha sonora de qualquer momento da vida. Da minha, pelo menos.
Era um talento único. Não era um messias, como dizem. Não era mártir. Não era exemplo. Não era santo. E quem se importa? Como ele mesmo disse:

“Há tempos nem os santos têm ao certo / A medida da maldade / E há tempos são os jovens que adoecem / E há tempos o encanto está ausente / E há ferrugem nos sorrisos / Só o acaso estende os braços / A quem procura abrigo e proteção.”

Os santos podiam não saber ao certo... Mas Renato Russo sabia (e talvez essa seja a melhor explicação para um cara como ele não ficar aqui nesse planetinha tacanho).

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